José Paulo
O Brasil padece da <doença da hiperimaginação política>. Um certo subjetivismo galopante guia a “análise” dos fenômenos
políticos. O subjetivismo político vende o peixe de que há esquerda e direita
bem separadas e irrevogáveis.
A <pessoalização da política> é um aspecto estudado pelas ciências sociais do passado
pré-universitário brasileiro. A pessoalização da política faz do indivíduo o
centro da política. Aqui, a política aparece como uma linguagem subjetivista
definindo, por exemplo, Dilma Rousseff como esquerda e Bolsonaro como direita.
Mas entre D. e B. temos Michel Temer, Sérgio Cabral e quejandos aliados de
Dilma no governo Dilma.
Temer administrou um golpe de Estado em Dilma; ele era o vice-presidente
de Dilma e se tornou presidente. Até Temer,
esquerda e direita se misturavam no poder brasileiro sem drama. Era o reinado
da pessoalização da política. Indivíduos se aliavam por cima de suas ideologias
e governam o país.
A lógica da pessoalização da política funciona pela cooptação
dos indivíduos pelo poder brasileiro. As forças políticas metabolizavam a
lógica supracitada em governos híbridos que confundiam a mente do pobre diabo professor
de ciência política marxista.
Fernando Collor levou a lógica da pessoalização da política
ao paroxismo. Com a vitória eleitoral assegurada sobre Lula com a ajuda do
Grupo Globo, Collor esqueceu o plano do patriarca da sociedade de comunicação
de massa. Para Roberto Marinho, Collor deveria ser o fator estatal de criação do
campo das forças da direita. O sr. Roberto queria pôr a pessoalização da política
encarnada por Collor, com esmero e gosto, a serviço da produção do campo das
forças da direita. Marinho sabia que a pessoa não governa fora de um campo
institucional de forças. Tinha certeza que a continuidade do poder brasileiro
nas mãos da direita dependia da geração do campo de forças da direita.
O problema é que Collor nada sabia da teoria do sr. Roberto. Acabou enfiando os pés pelas mãos e caiu mediante um impeachment. Paradoxalmente, o primeiro presidente da democracia 1988 foi derrubado com a ajuda de Roberto Marinho.
Para a nossa política nacional, FHC significa a fabricação do
campo da esquerda? FHC governou com a direita do Estado militar 1968 que
sobreviveu como partido político. O plano de FHC consistia em uma democracia na
qual o PSDB e o PT se alternassem no poder nacional, como partidos dirigentes
de Estado. E hegemonizassem as forças da direita: hegemonia com dominação.
Todos conhecem essa história em miúdos. Ao chegar ao poder
nacional com Lula, o PT esqueceu o <tratado FHC> e quis criar o 3° Reich tupiniquim, a democracia petista dos
mil anos. A lógica FHC foi aplicada no Chile pós-Pinochet com sucesso.
FHC criou o campo da esquerda via pessoalização da política.
Ele aparece como um presidente carismático, e no lugar dele só poderia advir um
outro presidente carismático: Lula.
Com Lula, o campo da esquerda incluiu forças da direita no
poder do planalto central do país. No entanto, com FHC, o campo se sustentava
sobre o artefato político povo brasileiro mestiço. FH não seguia Florestan
Fernandes que substitui o povo brasileiro mestiço (Euclides da Cunha) pela raça
na vida política prática em seu livro: “A Integração do negro na sociedade de
classes”.
Com Lula, a fórmula FHC é aplicada no governo. O PT governa
em aliança com a direita. Lula diz que não existe essa coisa de oligarquia. A direita
era reconhecida pelo público como reino da oligarquia política. Lula altera a
linguagem política para poder governar com a direita e a esquerda.
Lula elege Dilma, um “poste” no linguajar do herói operário
do Sertão de Pernambuco. Dilma se esforçou para não ser o poste de Lula. Conquistou o PT e se aliou com a direita do PMDB
(MDB degradado) de um Sérgio Cabral, então governador do Rio de Janeiro. Com
Dilma, o multiculturalismo (negro, mulher, LGBT) torna-se uma ideologia privada
dos mass media seculares. Dilma conquista o Grupo Globo.
Há uma certa hesitação quanto a pôr o negro como significante-metre
da política. Já em queda, as mulheres petistas gritavam: “Dilma guerreira do
povo brasileiro”. O PT de Dilma não seguia Florestan Fernandes. Ele já se
confundia com os partidos da direita aliados.
Em 2013, Serginho enfrenta o movimento de rua quase
anarquista. O confronto traz à tona um Cabral despótico (aquele que transformou
o Rio em uma societas sceleris, em um refúgio para criminosos políticos).
O cérebro demoníaco de Serginho faz Dilma promover uma lei antiterrorista
para destruir o movimento de massas 2013. O movimento anarquista carioca foi
esmagado sem piedade. Dilma não sabia, mas os fatos mostraram depois que aí
nasce um campo da nova direita distinto da direita oligárquica. Como isso é
possível?
Dilma ressignificou a dialética nietzschiana na política
brasileira:
“Nossas mentes rechaçam a ideia do nascimento de uma coisa
que pode nascer de uma contrária, por exemplo: a verdade do erro; a vontade do
verdadeiro da vontade do erro; ato desinteressado do egoísmo ou a contemplação
pura do sábio, da cobiça. Tal origem parece impossível: penar nisso parece
próprio de loucos”. (Nietzsche: 17-18).
Com a queda de Dilma, o campo da direita adquire um sentido
distinto da direita oligárquica. A lógica neoliberal torna-se o fundamento
desse novo campo. Temer e Moreira Franco (e um anônimo acessor) imprimem a
marca neoliberal na política estatal. Esta inflexão se inicia com a Dilma de seu ministro neoliberal da economia Joaquim Levy.
O Grupo Globo detém praticamente o monopólio ideológico dos
mass media seculares. Com a vitória de Bolsonaro, a televisão desse grupo viu a
oportunidade de desenvolver um modelo político combinando o manejo do multiculturalismo
com o extremismo do governo Bolsonaro.
O modelo remete ao grupo Roberto Marinho. Este foi o aparelho
ideológico privado do Estado militar que faz sua programação com membros do PCB
e artistas da esquerda brasileira. Quem usava quem? A esquerda via como
ocupação da televisão aquilo que o dr. Roberto via como cooptação da esquerda.
A conversão do trotskista Paulo Francis (um ensaísta inigualável, romancista bissexto, jornalista culto, cientista social extra -universitário) ao neoliberalismo foi o troféu exibido por Marinho aos seus amigos da direita ortodoxa. O restante pouco importava, a não ser transformar a programação da Globo em algo palatável para a classe média patrimonial.
Todo campo de forças é habitado pela direita, pântano, esquerda. O jornal das 6 horas da Globo News é a direita, O jornal das 10 horas é o pântano e o Studio i (13 horas) é a esquerda da direita do capitalismo subdesenvolvido pós-moderno. Daí essa impressão de que a televisão não tem unidade textual, sendo uma anarquia de posições individuais. Professores da PUC do Studio i, certamente, na PUC, são considerados professores de esquerda. Na Globo, eles são ressignificados, eletronicamente, como a esquerda da direita, simplesmente.
A conversão do trotskista Paulo Francis (um ensaísta inigualável, romancista bissexto, jornalista culto, cientista social extra -universitário) ao neoliberalismo foi o troféu exibido por Marinho aos seus amigos da direita ortodoxa. O restante pouco importava, a não ser transformar a programação da Globo em algo palatável para a classe média patrimonial.
Todo campo de forças é habitado pela direita, pântano, esquerda. O jornal das 6 horas da Globo News é a direita, O jornal das 10 horas é o pântano e o Studio i (13 horas) é a esquerda da direita do capitalismo subdesenvolvido pós-moderno. Daí essa impressão de que a televisão não tem unidade textual, sendo uma anarquia de posições individuais. Professores da PUC do Studio i, certamente, na PUC, são considerados professores de esquerda. Na Globo, eles são ressignificados, eletronicamente, como a esquerda da direita, simplesmente.
No governo Bolsonaro, o modelo Roberto é usado mais uma vez. A
televisão carioca tem uma programação voltada para fazer propaganda aberta do
governo Bolsonaro. A televisão planeja a expansão do campo das forças da direita
(ela organiza ideologicamente o campo da direita) com cooptação da esquerda. Não
tem outro sentido a tática de atrair artistas da esquerda e intelectuais
progressista para preencher sua programação.
O Grupo Globo vai se organizando e organizando o campo da
direita neoliberal do capitalismo subdesenvolvido através de suas estrelas do
jornalismo pós-moderno como Leila Sterenberg e Adréia Sadi.
Andreia Sadi se especializou em fazer programas com os
ministros ideológicos do governo Bolsonaro. Ela é a jornalista intima dos
poderosos do campo da direita no planalto central do país. Sua lealdade ao
poder extremista (civil e militar) é compensada por um lugar de poder nos mass
media. Ela quer se tornar uma jornalista temida. Ela pode convencer o poder
extremista quais são os alvos no mundo progressistas, não óbvios, a serem combatidos
policialmente.
Leila é a face do jornalismo pós-moderno. Ela tem como função
manipular a linguagem da realidade para que esta não apareça como ela realmente
é: linguagem do capitalismo subdesenvolvido neoliberal.
Na linguagem de Leila, há países de renda média seja qual for
o continente, pois, trata-se de um abstração estatística sem força gramatical de realidade dos fatos realmente existente. Essa linguagem já está sendo substituída entre os líderes mundiais
ocidentais pela linguagem na qual os países em desenvolvimento ou emergentes
aparecem como países subdesenvolvidos. Há muita estrada para andar nessa nova
linguagem econômica do século XXI. O jornalismo brasileiro não usará a linguagem do real mundial, pois, tem o hábito de manipular a consciência gramatical da audiência e do leitor. Esta é a diferença entre o Brasil (subdesenvolvido) no plano do uso da língua e a Europa desenvolvida no domínio da cultura.
O Grupo Globo é uma peça chave na expansão do campo da direita
neoliberal. Ansiosamente, as jornalistas de economia falam da necessidade das
reformas do Estado para que a economia volte a crescer. O papel do Grupo Globo
consiste no controle da linguagem econômica para que a sociedade civil não se
veja como sociedade civil do capitalismo subdesenvolvido neoliberal. Trata-se de uma estratégia de manipulação consciente
de editores, âncoras, repórteres ou soldados do exercito mass media.
Não tem crescimento no subdesenvolvimento neoliberal.
O campo da direita pós-moderno põe e repõe a religião no lugar da raça
em um processo de destruição da secularização que forjou a modernidade
brasileira. A televisão neoliberal (e a imprensa em geral) é o lugar da
secularização em colapso. Ela não pode servir a dois senhores. Assim, ela cria
as aparências de semblância de uma secularização nas nuvens, quando na terra a
realidade é o avançar da religiosidade na vida política prática.
O brasileiro com mais de 40 anos se define assim; “papa-mama,
quero aparecer na televisão”.
NIETZCHE. Além do bem e do mal. SP: Hemus, 1981
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