segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Realidade objetiva política republicana

 



REALIDADE OBJETIVA POLÍTICA


Realidade objetiva política republicana 



A imagem textual da realidade objetiva independente do sujeito é a pedra de toque do materialismo de Marx E Engeis - que a gramática física clássica corrobora na sua imagem matemática do macromundo. Na micromundo da física quantica a gramática fala de uma outra matéria do mundo. Para certos físicos, a realidade objetiva só existe a partir da observação da matéria quântica pelo gramático da física quântica. Ela é um efeito da relação entre gramático e gramática da realidade. A realidade quântica não existe fora da percepção do gramático. A prática política existe pela realidade objetiva da física clássica ou da matéria da grmática da biologia ou pela realidade da fisica quântica que diz que a realidade política só existe a partir da observação de um gramático da política?

Fisicos quânticos admitem que a realidade objetiva da matéria quântica existe independente do sujeito que a observa. Eis o materialismo de Marx e Engels confirmado pela física quântica. Este física é estruturada pelo poder realista realista do materialismo de Marx e Engels, por exemplo. A realidade de uma matéria que só existe na observação do observador- seja ele cientista ou artista - não é um efeito do poder estético realista realista. Ela é uma gramática do mundo  como efeito de um poder estético realista mágico?

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 A realidade da prática política foi pensada por Kantorowicz na Idade Média da existência das formas de governo na tela da mente simbólica europeia na qual o imperador aparece como ersatz de papa e representava Jesus o Grande Pai e também Cristo-Rei. O soberano é aquele da transição de uma forma para outra. A transição não é barroca; não há matéria política a partir da qual se inventa uma nova forma de governo:

“< Faire quelque chose à partir de rien, c’est instaurer un nouveau droit (<est ius novum condere>)>, c’est-à-dire légiférer”. (Kantorowicz. 1984: 49). 

O poder pontifical é fazer qualquer coisa a partir do nada. o soberano tem sua imagem textual virtual no papa. O poder papal é o poder d’ars da transição de uma forma de governo para outra. Ele tem o poder de mudar a natureza das coisas da prática política. Ele emerge do real lacaniano onde em sua existência, ele é parte do significante do real onde não há a materialidade da tela da mente estética, não há gramática, nem ideologia ou retórica, não há ethos e pathos, bem e mal, normal e patológico, eros e tanatos. Ele é o modo de ser psíquico creatio ex nihilo. Ele é potência e ato em ato, de Plotino, plenitude potestatis ou plenitude do poder de estético como poder d’ars em junção com o direito justiniano. Este direito emerge do real, como caso de direito de prerrogativas exclusivamente reservadas ao papa:

“Il (le pape) fait qu’une chose qui est, ne soit pas et que ce qui n’est pas, soit> [...] du pape de faire qu’une chose réelle ne soit plus rien (<de aliquo facit nihil), ce qu’il explique par la prérogative de <mutare etiam naturam rei>” (Kantorowicz. idem: 43). 

O papa é o artista plastico criador da gramática da forma de governo comparável a Deus ao poder de criar em sua alma o que ainda não foi concebido no espírito de outro homem. Isso é diametralmente oposto à imitação. o poder d’ars nominalista do soberano é um poder que nã im ita à natureza, ele não advém do direito natural profano. Ou pode ser um poder estético ficto, um poder d’ars do legislador artista, pois imita a natureza <ex officio>, passagem ao ato do real para a prática política simbólica. O direito natural pode ser uma imitação não da natureza em si, mas uma imitação da natureza da gramática da forma de governo:

“l’acte législatif cest un art d’imiter la nature, car il imite le droit naturel. L’art du législateur, cepeendant déterminé par le droit naturel général, doit inverter le <particulare> du droit positif (<Ius positivum…est per industriam hominum adinventum>) - c’est-à-dire l’application particulière du droit naturel général à un espace et pour un temps limités -, mais de telle sorte que le <particulare> reflète malgré tout le <generale> du droit de la nature. En d’autres termes, il fait à la fois plus et moins <qu’imiter la nature>, car il <invente>”. (Kantorowicz: Idem; 39). 

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O RSI é a tela da hegemonia da prática política universal planetária:

“Em todo caso, é a partir de Joyce que abordarei esse quarto termo, uma vez que ele completa o nó do imaginário, do simbólico e do real. O problema todo reside nisto - como uma arte pode pretender de maneira divinatória substancializar o sinthoma em sua consistência, mas também em sua ex-sistência e em seu furo?” (Lacan. S. 23: 38). 

A arte é o poder estético da tela da hegemonia jurídica que torna o sinthoma uma substância em sua consistência e em seu furo no RSI? À tela da hegemonia correspondem modos de ser psíquicos que a fazem funcionar na práxis individual e de massa analítica (Lacan. S. 8: 325): ideológico, cultural, mass media, científico. Marx viu o poder d’ars como forma ideológica distinta da ciência (Marx. 1974: 136). O poder d’ars pode ser uma forma ideológica do general intellect, do scientific power (Marx. 1978: 302). O poder estético pode ser a forma ideológica do general intellect gramatical (Eagleton; 1993). Ou ele pode ser a forma cultural das massas analíticas do general intellect gramatical. Na tela da hegemonia da prática política (Gramsci. 1977: 2341-2343), o RSI pode ser o Uno territorial da forma cultural das massas analíticas como general intellect gramatical que se estrutura e funciona pela plurivocidade de poder estético e de poder d’ars (Bandeira da Silveira; julho/2025). Aí nos encontramos no romance do RSI territorializado como tela da hegemonia da prática política em geral.     

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Como furo e consistência sinthomáticos de uma época, o hegemonikon ou eu hegemônico (Elorduy. v. 2: 26) é o poder estético que organiza, estrutura, faz funcionar as narrativas com intriga celestial (Ricoeur: 24) da tela da hegemonia da prática política da comunicação (Walton; 1997).da realidade hierarquica plotiniana.

O’Meara

“seu mundo é uma ‘hierarquia’ ou uma ‘cadeia de ser’, sustentada por uma misteriosa causa transcendente, o Uno, após a qual há uma sucessão de níveis até o menor grau, a matéria”. (Gerson:87). O poder d’ars é o Uno como mais, menos, muito e pouco generalizável, esteticamente, na prática política do domínio do particular de uma formação social territorial geográfica ou territorial virtual mundial. 

O’Meara:

“No entanto, parece que a ordem platônica de dependência coincide com uma ordem de perfeição: as Formas claramente têm um modo de existência em relação ao qual os objetos sensíveis são deficientes e imperfeitos e a Foema do Bem de <República>, de algum modo fonte das formas as supera ‘em dignidade e potência’.A perfeição nos termos em que as Formas são superiores aos objetos sensíveis é complexa, envolvendo não apenas independência, mas também imutabilidade, autoidentidade e integridade, que as torna ‘mais reais’, objetos privilegiados de conhecimento, lugar primeiro dos valores morais e estéticos”. (Gerson: 92-93).    

A forma de governo é aquela do poder d’ars, mas também imutabilidade, autoidentidade, identidade e  poder estético do Uno hegemonikon; ela é superior aos objetos sensíveis do aparecer das aparências de semblância da prática política da comunicação estética.     

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O poder d’ars é o poder estético aplicado na matéria da tela da hegemonia plotiniana:

“La matière est affirmée par Plotin réceptive de l’extension [...]. Avant l’arrivée de la grandeur, la matière n’était nullement petite, ni d’ailleurs grande, elle n’avait tout simplement pas de grandeur; C’est pourquoi Plotin avance qu’elle est un volume vide, ou encore un volume sans grandeurs, inétendu, c’est-à-dire un volume sans volume. En d’autres termes, la matière sensible n’a en elle-même, indépendamment des grandeurs eidétiques qui lui communiquent une grandeurs, aucune réalité spatiale. Elle n’est à proprement parler <nulle part>, puisque <le lieu est postérieur à la matière et aux corps>, et que la matière, avant de recevoir la grandeur de la grandeur eidétique, n’occupe par définition aucun lieu, puisqu’elle n’a aucun volume”. (Narbonne: 115). 

 A grandeza da matéria volume sem volume é distinta da grandeza da matéria eidética? Idealismo plotiniano? o que se encontra na essência da matéria da prática política? O materialismo plotiniano é incompreensível fora do <lugar> posterior à matéria e aos corpos - que é a tela da hegemonia do poder estético kantiano que atribui grandeza à matéria da prática política plotiniana:

“sem dúvida que não há para a estimação matemática de magnitudes um maximamente grande (pois a capacidade dos números vai ao infinito); porém para a estimação estética de magnitudes há, em todo caso, um maximamente grande; e digo deste que, quando é julgado como medida absoluta, por sobre a qual nada mais grande é possível subjetivamente (para o sujeito que julga), implica a ideia do sublime e suscita essa emoção que nenhuma estimação matemática das magnitudes por meio de números pode efectuar (a não ser que essa medida fundamental estética seja mantida viva na imaginação); porque a última apresenta só a magnitude relativa por comparação com outras da mesma espécie, e a primeira, em cambio, a magnitude em absoluto, na medida que possa o ânimo captá-la em uma intuição”. )Kant. 1991: 165).

O poder estético provoca a emoção no individuo (pessoa ou multidão como matéria de um corpo político) captado pelo ânimo em uma intuição. O <ânimo> pode ser traduzido como a relação do poder estético com as afecções (ódio e amor, tristeza e alegria, medo e coragem etc) na língua fenilato (Bandeira da Silveira; março/2025) da prática política plotiniana - da tela da hegemonia do poder d’ars  kantiano. Há relação do poder estético com a prática política que se define pela hegemonia do Bem? Prática política do poder estético nominalista res publicano? O nominalismo não assegura a autonomia relativa da prática política republicana em relação à gramática econômica dominante de uma formação territorial-social? 

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Uno é a unidade da tela da hegemonia da forma de governo:

“ - E isso que é pensado como sendo uno, e como algo que é sempre que é o mesmo sobre todas as coisas, não será isso a forma? (Platão. Sem data: 42). O uno é a forma de governo republicana como a forma mais geral; há outras formas menos ou muito ou pouco republicanas. A forma muito geral é a forma da república democrática ou politeia; forma menos republica é a tirania e a pouca republicana é a oligarquia etc. A tela da forma de governo republicana aristotélica funciona pelo princípio da não contradição:

“toute chose doit nécessairement être affirmée ou niée, et qu’il est impossible qu’une chose doit et ne soit pas, en même temps, ainsi que toutes autres prémisses de ce genre”. (Aristote. 1991:129). 

A tela da forma de governo platônica funciona pela lógica gramatical de um poder d’ars paraconsistente (Newton da Costa;2008):

“ - Assim sendo, e com base em tudo o que foi dito, o uno está e não está em contato consigo próprio e com as outras coisas”. (Platão. sem data: 81). 

Há dois extremos na tela da hegemonia da prática política mais geral do sentido: o poético mitológico e a gramática, ideológica, retórica do simbólico como general intellect gramatical como produção de sentido e contra-sentido:

“Alors que l’intelligence décompose le sens, le mythe le compose. C’est pourquoi il ne saurait être compris d’après une supposée valeur explicative: le mythe n’est pas une science des primitifs mais un moyen de compréhension immédiate du réel. L’oposé du sym-bolique, c’est, proprement, le dia-bolique”. (Godin: 732). 

A tela da hegemonia da pratica política mitológica é a generalização absoluta da relação estética da massa com a forma de governo, com a unidade dessa forma. Não há exceção, não há furo na identificação estética, pois ela é intuitiva, ela não contempla a prática dialética da reflexão do general intellect gramatical republicano. A tirania quer ser a forma de governo republicana do mito, do diabólico, da superfície heteróclita da tela da hegemonia republicana:

Ockham:

“As palavras de Cristo: ‘Tudo o que ligares’ etc. não devem ser entendidas genericamente, sem exceção. As palavras genéricas nem sempre devem ser entendidas genericamente”. (Ockham; 69). 

A tela da hegemonia da forma republicana de matéria universal tem furo, tem exceção à regra que é a forma republicana democrática. A forma geral republicana é fazer o Bem, aplicar o bem na matéria da prática política. Mas o que é essa matéria do corpo político? A grandeza da matéria republicana democrática depende da aplicação do poder estético sublime à matéria contingente do particular como bem e mal, ethos e pathos, eros e tanatos, agradável e desagradável. Trata-se da matéria da lingua fenilato/alquilato, língua quimilato do homem gramatical da civilização do general intellect gramatical. E o Bem da unidade (Uno republicano) da forma de governo universal republicana?             

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A relação da forma de governo republicana com o Bem republicano tem seu território hoje na China. O Bem maior republicano é a generalização do general intellect gramatical:

Plotino:

“Assim, se um ser não dirige seu ato para nenhum outro ser, mas é o objeto para o qual o ato de todos os outros se dirige, por ser ele o melhor de todos os seres e transcender a todos os seres, é claro que tem de ser ao mesmo tempo o Bem e o meio pelo qual tudo o mais pode participar do Bem. Os outros seres podem participar do absoluto Bem de duas maneiras: tornando-se semelhantes a ele ou dirigindo os atos de seus seres em direção a ele. Assim, se todas as aspirações e atos se dirigem para o Bem, ele próprio não precisa nem pode visar ou desejar nada além de si mesmo”. (Plotino: 37). 

O Bem maior republicano é a tela da hegemonia da prática política plotiniana habitada pela generalização com exceção (Campo Simbólico)  do general intellect gramatical republicano (G. I. G. R.): 

“A globalização neoliberal é a expropriação da imaginação dos povos em escala industrial dos povos desenvolvidos e subdesenvolvidos ocidentais ou extremo-ocidentais. Hoje, o americano encontra-se estagnado no uso da imaginação inventora de gramática. Assim, o povo americano é bloqueado pelo capitalismo como agente gramatical da história mundial”. (Bandeira da Silveira. 05/2022, cap 4, parte 3). 

O Bem republicano maior da prática política é a generalização da massa analítica do G. I. G, R. o direito republicano de participar da prática política republicana plotiniana:

“Na articulação da hegemonia do mercantilismo capitalista, o general intelect existe como o partido que faz a junção da política com a economia, da gramática com a ciência. O campo das ideologias se transforma, pois, a ideologia deve funcionar como o domínio da luta do mercantilismo capitalista contra o ancien regime”. (Bandeira da Silveira. Idem: cap17, parte 2). 

O general intellect gramatical pode aplicar o Bem republicano na matéria da pratica política republicana;. O GIGR é o agente da passiva da tela da hegemonia republicana machadiana:

“O livro foi escrito elos alunos. (Bechara: 213)”.

‘Pelos alunos é o agente da passiva. Assim, no <delírio literário>, de Brás Cubas, o agente da passiva é o hipopótamo que arrebata o narrador levando em uma viagem que apresenta a B. C., ‘a história do homem e da terra’. Outro agente da passiva é a Natureza ou Pandora. Ambos articulam a lógica de sentido e não-sentido na tela fenilracional da narrativa delirante. A foraclusão dos significantes fenilgramatical de sentido é atenuada (Bosi: 11) pelo agente da passiva hipopótamo cair na realidade do narrador como seu gato sultão, trazendo o narrador do real como foraclusão dos significantes da tela fenilgrmatical narrativa. Esta tela é um dos olhares narrativos ao lado do olhar de B. C. e do próprio Machado que aparece como narrador, na figura da Natureza”. (Bandeira da Silveira. março/2025: cap. 2, parte 15). 

O general intellect gramatical republicano é o hipopótamo da prática política do poder d’ars nominalista machadiano. A Natureza da tela da hegemonia republicana aparece como a narrativa machadiana do <general intellect> da prática política da <história do homem e da terra>. (Habermas. 1982: 64). 

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 Para fazer um ponte com o século XX, recorro ao poder d’ars leninista de governar a filosofia. Há dois partidos ideológicos em filosofia em choque por dizer o que é a realidade objetiva e a prática política: partido idealista e partido materialista: 

“Tomar ou não o primário a natureza, a matéria, o físico, o mundo exterior, e considerar a consciência, o espírito, a sensação (a experiência, segundo a terminologia em voga nos nossos dias), o psíquico etc. como secundário? Tal é a questão capital que de fato continua dividindo aos filósofos em dois campos”. Lenin. 1975: 268). 

Na ciência política materialista, há dois partidos em gramática-ideológica-retórica? Idealismo e materialism?

Philonenko:

“A questão evoluiu. Sabe-se o que é sensação e, por conseguinte, não se ignora o que são os dados da vista, do ouvido, e sabe distinguir-se o som e o sentido; o exemplo alegado, que prova a possibilidade de isolar a sensação, é a língua dos bárbaros (163B). Porém, talvez por associação de ideias, se o raciocínio se inverter, se distinguirmos a língua e a sensação, a gramática levar-nos-á ao sentido sem ensinar o que é sensação”. (Philonenko. 1997: 150). 

A prática política tem modo de ser psíquico gramatical, ideológico, retórico em uma tela da hegemonia republicana:

“Si le divin donne la mesure, c’est aux dialecticiens, tels ceux que la <République> met en scéne, qu’il revient de construire un ordre politique. De là naît la responsabilité du philosophe. Il est responsable de ce qu’il dit et de ce qu’il fait, c’est-à-dire des effets de ses paroles et de ses constructions dans le monde. Autant dire que la philosophie platonicien, contrairement à celui de Aristote, ne se contente pas de contempler l’ordre du monde où le divin serait déjà à l’ouvre, puisqu’il lui incombe de participer à se manifestation et à sa réalisation”. (Edmond:14). 

O divino em obras é a tela da hegemonia da prática política; O filósofo-rei é o artista plastico, o demiurgo político (Edmond: que  participa dessa tela a realizando como obra-de-arte da unidade do Bem comum. O Uno como Bem comum significa que a prática política não pode ser contemplativa. A notável tese 11 de Marx fala da pratica do demiurgo? Ou fala de uma pratica política que não seja ideológica pura, como a filosofia, e sim de uma prática,gramatical, ideológica, retórica?

Marx:

“Os filósofos se limitaram a <interpretar> o mundo diferentemente, cabe <transformá-lo>”. (Marx;. 1974: 59). 

Marx poderia estar falando da prática política republicana nominalista? Transformar evoca a prática economica do capital moderno:

“É preciso, no entanto, contentarmo-nos com a palavra de ordem e com sua difícil lição: Os filósofos apenas interpretaram o mundo de forma diferente, o que importa é mudá-lo [...] Para <verändern>, apóio a escolha de <mudar> ao invés de <transformar>, com  o faz a maioria das traduções, por um lado pelo fato de que Marx, como é o caso da T. 3. associa <Veranderung>e < Ärdern> (mudar) com este último vocábulo comunicando seu sentido de ao < Selbstveränderung> que o explicita imediatamente e, por outro ado, pela sequência <revolutionieren> (T. 1, 4) / <verändern> (T. 3) / <vernichten> (T. 4).  É bom pensar também no ‘isso vai mudar’ (<das soll anders werden) de < A Ideologia alemã”. (Labica: 164-165). 

A pratica politica é o objeto das Teses de Marx? O que seria essa prática? Lenin fez a gramática, ideológica-retórica dessa prática politica que <muda> a forma de governo e é capaz de criar uma tela da hegemonia nominalista do dominado. Marx cita Bauer:

“<Des <idées> ne peuvent jamais au-delà d’un ancien état du monde, elles ne peuvent jamais que mener au-delà des idées de l’ancien état de choses. Généralement parlant, des idées ne peuvent <rien mener à bonne fin>. Pour mener à bonne fin les idées, il faut les hommes, qui mettent en jeu une force pratique”. 

“La Révolution française a engendre les idées du communisme (Babeuf) qui, élaborées de façon conséquente, contenaient l’idée du nouveau Weltzustands (Etat du monde)”.(Lenine. v. 38: 37). 

A revolução bolchevique criou a URSS, república dos sovietes, república do dominado, dando um passo à frente da Revolução francesa da república do dominante. A república leninista russa é a forma de governo mais generalizável do Bem republicano, dos direitos republicanos do Uno comunista. Lenin e Robespierre partilham do poder estético realista realista? O estudo da plurivocidade de oder estético leninista ainda não foi empreendido. Porém, Robespierre não aparece mais realista realista do que Lenin.

Robespierre:

“Mas qual é, afinal, esse raro mérito de pagar um marco de prata ou alguma outra imposição à qual atribuís prerrogativas tão altas? Se legais ao tesouro público uma contribuição mais considerável que a minha, não será porque a sociedade vos proporcionou maiores vantagens pecuniárias? E, se quisermos insistir com essa ideia, qual é a fonte desta extrema desigualdade de fortunas, que junta todas as riquezas em um pequeno número de mãos? Não são estas as más leis, ou maus governos, enfim, todos os vícios das sociedades corrompidas? Ora, por que é necessario que aquele, vítimas desses abusos, ainda sejam punidos por seu azar, com a perda da dignidade de cidadão? Naõ invejo de maneira alguma a porção avantajada que vós haveis recebido, já que essa desigualdade é um mal necessário ou incurável: mas ao menos não me tireis os bens imprescritíveis que nenhuma lei humana pode me arrancar> Permitais que eu posssa ter orgulho , alguma vez, de uma pobreza honrada, e não procureis mais me humilhar, pela orgulhosa pretensão de vos reservar a qualidade de soberano, deixando-me apenas a de súdito”. (Zizek. 2008:57).

O poder d’ars realista realista republicano de Robespierre não é o poder d’ars nominalista-comunista de Lenin? A lingua -fenilato das afecções republicanas de Robespierre exige que a relação soberano (dominante)/súdito (dominado) seja <mudada>, que seja mudada a forma de governo republicana barroca (conciliação da república com a aristocracia) para uma forma de governo republicana republicana.       

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O olhar da época do trabalho assalariado generalizado vê no mundo grego a vida pelo modo de produção da escravidão no senso comum moderno. Hannah Arendt e Hegel lançam um outro olhar diferente sobra a antiguidade: 

“O domínio sobre a necessidade tem então como alvo controlar as necessidades da vida, que coagem os homens e os mantém sob seu poder. Mas tal domínio só pode ser alcançado controlando os outros e exercendo violência sobre eles, que, como escravos, aliviam o homem livre de ser ele próprio coagido pela necessidade. O homem livre, o cidadão da <polis>, não é coagido pelas necessidades físicas da vida nem tampouco sujeito à dominação artificial de outros. Não apenas não deve ser um escravo, como deve possuir e govenar escravos. A liberdade no âmbito da política começa tão lgo todas as necessidades elementares da vida tenham sido sujeitas ao governo, de modo tal que dominação e sujeição, mando e obediência, governo e ser governado, são pré-condições para o estabelecimento dea esfera da política precisamente por não fazerem parte de seu conteúdo”. (Arendt. 1988: 159).  

A relação entre gramática da economia e gramática da política, forma de governo econômica (Oikos) e forma de governo político (República), entre dominação e hegemonia, necessidade e liberdade, civilização política e barbárie econômica - todos aparecem articulados por um poder d’ars realista realista arendtiano?      

Hegel: 

‘Entre os gregos, sentimo-nos de imediato em casa, pois nos encontramos ma região do espírito, e mesmo que a origem nacional - assim como a diferença das línguas - tenha raízes na Índia, só podemos encontrar a verdadeira ascensão e o real nascimento do espírito na Grecia”. (Hegel. 1995: 189).

O <Espírito> é a tela da hegemonia do poder estético nominalista hegemonikon estoico grego, A tela da hegemonia e o poder estético nominalista hegemonikon associados são a causa da mudança cíclica da forma de governo, sendo os extremos a republica democrática e a republica tirânica.        

Roma tem sua diferença com a Grécia. Arendt fala da <autoridade republicana> cum auspices. Este é um poder d’ars do realismo fantástico? 

“A força concreta dessa autoridade está intimamente ligada à força religiosamente coerciva do <auspices>, que ao contrário dooráculoi grego não sugere o curso objetivo dos eventos futuros, mas revela meramente a aprovação ou desaprovação divina das decisões feitas pelos homens. Também os deuses têm autoridade entre, mais que poder sobre, os homens; eles ‘aumentam’ e confirmam as ações humanas, mas não as guiam. E exatamente como a origem de ‘todos os auspices se remonta ao grande sinal pelo qual os deuses deram a Rômulo a autoridade para fundar a cidade, assim toda a autoridade deriva dessa fundação, remetendo cada ato ao sagrado início da história romana e somando, por assim dizer, a cada momento singular todo o peso do passado. <Gravitas>, a capacidade de arcar com esse peso, torna-se proeminente do caráter romano, assim como o Senado, a representação da autoridade na República, podia funcionar - nas palavras de Plutarco (<Vida de Licurgo>) - como ‘um peso central, que, à maneira do lastro em uma embarcação, mantém as coisas sempre no justo equilíbrio”. (Arendt. Idem: 165-66).

Santo Agostinho não fala de um poder estético fantastico funcionando na tela da hegemonia romana cristianizada? Assim auspice aparece como o demônio cristão em um teatro do mundo de Jesus. Jesus é o poder estético do sagrado que religa _como realismo realista - o Pai virtual, celestial, ao Filho carnal, territorial: 

“Depois, em chegando a Tarento, Sila oferece sacrifício aos deuses; vê, na parte superior do fígado do bezerro, a imagem de cintilante coroa de ouro. Então, o auspice Póstumo lhe explicou que a coroa significava vitória e o mandou comer, sozinho, as entranhas da vítima. Dali a pouco, um dos escravos de certo Lúcio Pôncio gritou, em tom de presságio: <Sou mensageiro de Belona; a vitória é tua, Sila. Em seguida, acrescentou que o Capitólio pegaria fogo. Disse-o e no mesmo instante saiu do acampamento. No dia seguinte voltou mais espiritado, gritando que o Capitólio ardera . Realmente, o Capitólio fora presa das chamas. Para qualquer demônio isso era de antever e anunciar com a máxima celeridade possível”. (Santo Agostinho: 100-101). 

O poder estético cristão cria um senso comum no qual o demînio prevalece sobre o senso comum romano do auspice como juízo estético (Gadamer. 1997: 80), como poder d’ars.   

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 Maquiavel e Hegel participam do espaço público procedural europeu de produção de imagens textuais da antiguidade europeia:

 “Roma viu florescer no seu seio mais virtudes do qualquer outra república”. (Maquiavel. 1979: 22).

“Todos os historiadores concordam que, já antigamente, nas colinas de Roma, vagavam tribos de pastores; que Roma, inicialmente, constituíra-se como um Estado de ladrões [...] Queles pastores ladrões aceitavam todos os que se juntassem a eles (Lívio chama isso de <colluvies>”. (Hegel. 19995: 243).

O Estado colluvies colonialista é restaurado,  parcialmente, na atualidade, como Estado bolsonarista das Américas. O poder estético realista realista hegeliano faz um texto de gramática, ideológica, retórica não-idealista. O Estado grego realista realista: 

“A indústria, como nós a conhecemos, não existia, e as terras eram logo ocupadas. Todavia, uma parte da classe pobre não queria se submeter ao estado de miséria, pois todos se sentiam cidadãos livres, e a única solução que lhes restou foi, logo, a colonização [...] A colonização era, assim, um meio de manter, de alguma forma, a igualdade entre cidadãos; porém esse meio é apenas paliativo, já que a desigualdade original, baseada nas diferenças de posse, logo reaparecia. As antigas paixões ressurgiram com nova força e a riqueza era logo utilizada para o domínio; assim ascenderam os tiranos nas cidades gregas”. (Hegel. idem: 197). 

A forma de governo tirânica é um poder estético realista realista fundado na desigualdade entre rico e pobre. A desigualdade é a causalidade da mudança da forma de governo que acaba no extremo despotismo, do vocabulário moderno. Roma e vida grega se distinguem na história universal:

“Na vida grega, embora não desligados da relação patriarcal, o amor e a estrutura familiar existiam na sua primeira origem, e o fim pacífico da convivência estava condicionado à aniquilação dos ladrões do mar e das terras. Já os fundadores de Roma, Rômulo e Remo, eram eles mesmos ladrões segundo a lenda; desde o início expulsos da família não cresceram no amor familiar”. (Hegel. idem; 245)

A forma de governo grega tem no amor familiar sua afecção de uma língua fenilato/alquilato da prática política universal republicana:

“Os primeiros romanos também não conquistaram suas esposas pelo livre cortejo e pela simpatia, mas pela força. Esse início da vida romana em brutalidade selvagem, com exclusão de sentimentos de moralidade natural, carrega  

Temos aí o poder estético brutalista patriarcal da relação homem/mulher bloqueia a formação da moralidade constitutiva da civilização da mulher, carrega consigo um elemento essencial, a rigor perante a relação familiar, um rigor egoísta que determina os futuros fundamentos básicos dos costumes e leis romanos. Encontramos entre os romanos, portanto, a relação familiar não como uma bela e natural relação de amor e do sentimento, mas sim como o princípio do rigor, da depedêncxia e da subordinação em oposição à confiança”. (Hegel. idem; 245).                                                                                                                                                

 A forma de governo romana republicana pode ser aquela da dominação brutalista e não da tela da hegemonia da relação ente homem e mulher livres.     

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A ciência política materialista procura resolver um problema lógico da caraterização da forma de governo a partir de Spinoza, Hegel e Maquiavel:

“Rômulo e os demais reis promulgaram numerosas leis, excelentes para um governo livre. Entretanto, como o seu objetivo principal tinha sido fundar uma monarquia, e não uma república, quando a cidade recobrou a independência, viu-se que a liberdade reclamava muitas disposições que os reis não haviam pensado estabelecer. E embora estes tivessem perdido a coroa pelas causas e nas circunstâncias que acima indicamos, os que os expulsaram, instituíram dois cônsules para o exercer a função real, de modo que só baniu de Roma o título, e não a autoridade do rei”. (Maquiavel. 1979: 27). 

Para Maquiavel, a república é a forma mista, logo, a forma mais geral:

“A república, retendo os cônsules e  Senado, representou a princípio a mistura de duas das três formas mencionadas: a monarquia e a aristocracia. Só faltava introduzir o governo popular. A nobreza romana, pelos motivos que vamos explicar, tornou-se insolente, despertando o ressentimento do povo; para não perder tudo, teve que ceder-lhe uma parte da autoridade. De seu lado, tanto o Senado como os cônsukes guardam bastante desta autoridade para manter a posição que ocupavam no Estado”. (Maquiavel. Idem: 27).

A forma de governo republicana é uma autofabricação na língua fenilato romana com, por exemplo a afecção <insolência> da aristocracia funcionando como causa histórica dos romanos, e não os gregos, chegarem a forma de governo mais geral que é a <república. Ora. o problema ideológico foi resolvido na gramática da história romana, mas permaneceu o problema lógico gramatical. Hegel encaminhou uma solução lógica gramatical:

“Pelo que toca as distinções determinadas na história romana, a divisão habitual é a de Monarquia, República e Império; como se nestas formas surgissem distintos princípios. Porém estas formas da evolução têm por base o mesmo princípio do espírito romano”. (Hegel. 1980: 519). 

A palavra <espírito> significa a tela da hegemonia de um poder d’ars de uma forma de governo a mais geral, que é a <República>. No <cesarismo>, tal problema lógico-gramatical, ideológico, retórico aparece na história universal mundial em  Hegel:

“Nessa fase, os romanos entram em contato com o povo destinado a ser, depois deles, o centro da história mundial. Devemos considerar esse período sob dois aspectos essenciais: o ,secular> e o <espiritual>. No aspecto secular, por sua vez, devem ser ressaltados dois momentos principais: primeiro, o dos soberanos; depois, o da determinação dos indivíduos como <pessoas>, o mundo jurídico”. (Hegel. 1995: 267),

O secular é o território do soberano e o virtual do jurídico. Isso significa que há uma tela da hegemonia jurídica na forma geral de governo republicana: 

“Primeiramente, deve-se notar que o governo romano era tão abstrato que a grande transição para o império quase nada alterou a Constituição. Só as assembleias populares, que não se ajustavam ao novo estado de coisas, desapareceram. O imperador era <princips senatus, censor, cônsul, tribuno: ele reunia em si essas dignidades, que ainda existiam nominalmente, e o poder militar - o que realmente importava, que estava em suas mãos. A Constituição era uma forma completamente sem substância, da qual se evadiu toda vivacidade - e, com isso, o poder e a força. O meio simples de mantê-la como tal eram as legiões que o imperador mantinha permanentemente nas proximidades de Roma. Com efeito, os assuntos estatais eram levados ao Senado, e que o Imperador aparecia como um simples membro; mas o Senado tinha que obedecer, e quem contestava era punido com a morte - além de ter os bens confiscados. Por isso, aqueles que aguardavam a morte certa suicidaram, para que, pelo menos, a família conserve suas posses. Tibério foi o mais odioso dos imperadores romanos, por causa de seu fingimento; ele sabia muito bem como usar a perversidade do Senado para derrotar aqueles membros a quem temia. O poder do imperador, como já foi dito, baseava-se no exército e na guarda pretoriana que o cercava. Todavia, não tardou muito para que essas legiões, em particular os pretorianos, se dessem conta de sua importância e se atrevessem a tomar o trono. No começo, manifestaram algum respeito perante a família de César Augusto; todavia, as legiões elegeram, mais tarde, seus capitães, aqueles que conquistaram a sua simpatia e preferência, por sua valentia e inteligência - ou graças a presentes e indulgências com relação à disciplina”. (Hegel. 1995: 266).              

 O cesarismo aparece com uma Constituição republicana.  a forma de governo republicana imperial cesarista, na modernidade, aparece com napoleão III (Jardin:367-38).  A forma de governo presidencialista republicana é um pastiche de uma paródia histórico, um apêndice ruim da forma de governo cesarista romana? A forma de governo pretoriana é o grua zero da forma de governo republicana geral? Nela surge o fenilatofenomeno do capitão pretoriano, que é restaurado, parcialmente, como o condottiero renascentista? Maquiavel vê o condottiero com um passo a frente do capitão pretoriano? Uma outra forma de vida da prática política no grau zero da república::

“Agátocles Siciliano tornou-se rei de Siracusa, sendo não só de impura mas também de condição abjeta. Filho de um oleiro, teve sempre vida criminosa na sua mocidade. Acompanhava as suas maldades de tanto vigor de ânimo e de corpo que, ingressando na milícia, chegou a ser pretor de Siracusa, por força daquela maldade. Neste posto, deliberou tornar-se príncipe e manter, pela violência e sem favor de outros, aquele poder que lhe fora concedido por acordo entre todos. Acerca deste desígnio, entendeu-se com Amílcar, que estva com seus exércitos na Sicília, e, certa manhã, reuniu o povo e o Senado de Siracusa, como se ele tivesse de consultá-lo sobre os negócios públicos. E a um sinal combinado fez que seus soldados matassem todos os senadores e os homens mais ricos da cidade. mortos estes, apoderou-se do governo daquela cidade e o conservou sem nenhuma hostilidade por parte dos cidadãos”. Maquiavel. 1973: 41).  

Os modo de ser psíquico politico do capitão pretoriano á a antessala do modo de ser psíquico do condottiero na língua fenilato do grau zero da forma de governo republicana geral? Seria esse modo de ser psíquico o furo, a exceção da generalização de um modo de ser psíquico do poder d’ars rerealista republicano? O leitor brasileiro viu o julgamento dos bolsonaristas do exército <kid preto>; Este planejou assassinar o presidente da república Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo de Lula e, em um esforço a mais, o juiz da Suprema Corte, Alexandre de Moraes - que comandou o combate contra a tentativa de golpe de Estado  bolsonarista.      

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No, “ Da Monarquia. Vida nova”, Dante faz a retórica da república monárquica:

“Acha-se muito longe do interesse humano quele que, mestre nas doutrinas políticas, não cuida de conferir à República nenhumj dos frutos que colheu. Esse homem não é como ‘a árvore que, plantada junto à água corrente, no tempo devido produz frutos’, mas antes uma cloaca pestilenta, que tudo draga e devora, sem nada restituir”. (Dante. 2003: 13).

Uma diferença entre a república monárquica e a república presidencialista pode ser encontrada na forma do soberano. Na primeira tem-se um soberano natural [lógica do símbolo do corpo real, pois, arbitrário] e na segunda um soberano artificial, um signo convencional da língua fenilato (Todorov: 394, 404), efeito da soberania popular:

“O monarca hegeliano, por exemplo, essa pontinha do real inteiramente arbitrária, determinada pela lógica totalmente não racional da hereditariedade, que , não obstante, ‘é’, em sua própria presença, a efetividade, a atualização do Estado como totalidade racional, ou seja, na qual o Estado atinge seu ser-aí”. (Zizek. 1988: 43).

Marx fez um texto maravilhoso sobre o monarca republicano hegeliano:

“Hegel crer haver demonstrado que a subjetividade do Estado, a soberania, o monarca, é ‘essencial’, como <este> indivíduo, abstraído de todo outro conteúdo, e que determina a este indivíduo, de um modo imediato e natural, pelo <nascimento natural>, para a dignidade de monarca’. Portanto, a soberania, a dignidade monárquica, seria fruto do nascimento. O <corpo> do monárca determinaria sua dignidade. Na mais alta <cúspide> do Estado decidiria, portanto, em vez da razão, a simples <physis>. O nascimento determinaria a qualidade do monarca, a maneira como determina a qualidade do boi”. (Marx. 1982:346). 

Uma coisa curiosa é que a rainha-mãe tem o controle da qualidade da produção do boi. Se a rainha determinará, arbitrariamente, naturalmente, quem será o monarca, o presidente da república é um efeito da gramática, ideológica-retórica da soberania popular como poder d’ars de um território geográfico. Aqui, a rainha-mãe pode ser uma pessoa do próprio povo. Nos dois casos, a mulher tem o controle da produção do soberano. Outrossim, o republicano monarca aparece no grande Outro da gramática jurídica, como símbolo barroco:

“O conceito jurídico dos Dois Corpos do Rei não pode, por outros motivos, ser separado de Shakespeare. Pois, se essa imagem curiosa, que se esvaneceu completamente do pensamento constitucional ainda hoje possui um sentido muito concreto e humano, isso, em grande parte, deve-se a Shakespeare. Foi ele quem eternizou essa metáfora. Fez dela não só o símbolo, mas, de fato, a própria substância e essência de uma de suas melhores peças. <A tragédia do rei Ricardo II> é a tragédia dois Dois Corpos do Rei”. (Kantorowicz. 1989: 36-37).      

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Spinoza foi nacionalizada pela universidade em francês e português. No Brasil, sua gramática é reconhecida e seguida quanto á forma de governo republicana. Assim, duas citações aparecem como essenciais no espaço público procewdural da tela da hegemonia republicana spinozista:

“ - Passo agora ao terceiro estado, que é inteiramente absoluto e a que chamamos democrático. A diferença entre este Estado e o aristocrático consiste, principalmente, já o dissemos em que, neste último, depende unicamente da vontade e da livre escolha da assembleia suprema que este ou aquele se torne patrício; ninguém tem, portanto, hereditariedade, o direito de sufrágio e o aceder às funções públicas. Ninguém pode reivindicar os seus direitos, como é o caso numa democracia. Todos aqueles, com efeito, que nasceram de pais no gozo dos seus direitos cívicos, ou no território nacional, ou que souberam merecer a República, ou que, por outras causas ainda, possuem legalmente o direito de cidadania, todos, repito, têm o direito de sufrágio e acesso às funções públicas; podem reclamar os seus direitos e não lhos pode negar senão por se terem tornado culpados de um crime, ou marcados de infâmia”. (Spinoza. 1973: 371).

Spinoza traduzido fala dos direitos republicanos ou democráticos? ele será por acaso quem fez a gramática, ideológica-retórica que distinguiu entre Estado republicano e Estado democrático, entre forma de governo [=forme de regime]  republicana ou democrática? No Brasil, é assim que se lê Spinoza:

“J’arrive, enfin, à la troisième forme de régime, caractérisée par son absolutisme rigoureux, et que l’on apelle démocratique. Ce régime se distingue du régime aristocratique, nous l’avons déjà dit, sous l’un de ses aspects surtout. Dans l’aristocratie, la nomination de tel ou tel homme au rang de patricien dépende, uniquement, d’une volonté et d’un choix libre de l’assemblée suprême> Si bien que nul ne reçoit háréditairement le droit de voter, ni le droit de revêtir una charge publique; d’autre part, nul ne serait non plus légalement revendiquer ce droit. Contrairement à ces dispositions que nous venons d’étudier - dans una démocratie, tout les habitants qui sont fils de citoyens, tout ceux qui sont nées  sur le sol national, ont rendu service à l’Ètat, ou doivent, pour toute autre raison, bénéficier du droit de citoyenneté, tous - je le répènte - peuvent se fonder sur la loi, pour réclamer le droit de vote à l’assemblée suprême  et pour poser leur candidature aux différent charges. Ces prérogatives politiques ne leur pourraient être refusées, qu’au cas où ils seraient soit coupables d’un délit criminel, soit déshonorés de quelque façon”. (Spinoza.1954: 1041).  

A tradução brasileira parece ter inserido a referência à República. Para a tradução francesa, o essencial é a gramática … de quem pode participar dos cargos do Estado. O criminoso juramentado não pode participar da prática política, pois isso faria do Estado democrático uma democracia de criminosos, uma <societas política sceleris>. Na forma de governo republicana geral de Platão, o assassino não pode participar da prática política: 

“em segundo lugar se provém de uma casa sem qualquer mácula, não tendo ele jamais cometido assassinarto ou qualquer uma daquelas ofensas contra a divindade, o que se estende também aos seus pais”. Platão. 2010: 240).

…           


           

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