José Paulo
Gentile foi o Jean Baudrillard realista modernista neoclássico da imagem do Estado integral. Gramsci fez dessa simples imagem uma tela da mente estética ocidental da época do mercantilismo capitalista europeu (Sombart. 1984: 83) da primeira metade do século XX. Em Gramsci, o Estado integral é sociedade política e sociedade civil, aparelhos repressivos e aparelhos de hegemonia e validade e faticidade, dominação e hegemonia (Buci-Glucksmann: 114). Hoje, o Estado integral aparece como poder estético, identificação estética, massas e sociedade de classe estéticas.
O anglo-americano criou uma imagem de cachorro-viralata do latino-americano como parte de sua dominação estética sobre as América, financiada pelo capital cultural (Bourdieu. 1994:39)do departamento de Estado americano. O anglo-americano criou uma imagem suja do Estado patrimonial barroco católico da Península em contraposição à imagem pura do Estado puritano clássico anglo-americano:
“O pelourinho, um símbolo de justiça e de autoridade real, erguia-se no centro da maior parte das cidades portuguesas do século XVI. À sua sombra as autoridades civis liam proclamações e puniam criminosos. sua localização, no centro da comunidade, ilustrava a crença ibérica de que a administração da justiça era o atributo mais importante do governo. Portugueses e espanhóis dos séculos XVI e XVII achavam que a administração imparcial da lei e o desempenho honesto do dever público asseguravam o bem-estar e o progresso do reino; inversamente, o embaimento da justiça por funcionários avarentos ou grupos e indivíduos poderosos traziam a ruína e provocavam a retaliação divina. Em Portugal, a preocupação real com relação à justiça chegou a medidas draconianas no reinado de D. Pedro I (1357-1397), para quem a administração equalitária da justiça a ricos e pobres tornou-se uma fixação psicótica. Inúmeras vezes tratados eruditos a as próprias leis versavam sobre a justiça como sendo a primeira responsabilidade do rei. Do século XIII ao XVII, os portugueses viam uma estreita relação entre o rei e a sua lei”. (Schwartz: 3-4).
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Nas ciências das telas, o Estado integral é: anjos de demônios, ethos e páthos, eros e tanatos, lógica gramatical e ideologia quimilato, retórica estética e modo de ser psíquico sublimatório, stásis e pólemos, obra-de-arte, isto é, o Estado lacaniano com poder estético e tela da mente estética. (Bandeira da Silveira. cap.12. Agosto/2022).
No romance político “Minas de prata”,no capítulo 3, volume 1, o Estado emerge na cidade de Salvador, Bahia, com a chegada do homem da aristocracia luso e sua classe dirigente e burocracia. A imagem estética deste fenilomenico beira o sublime pela identificação estética da massa estética barroca reunida na Igreja para a festa barroca cívica-religiosa:
“Chegava o governador D. Diogo de Meneses, conduzindo debaixo de pálio pelos juízes e vereadores do conselho. e acompanhado por D. Diogo de Campos, sargento-mor do Estado do Brasil, pelo alcaide-mor da Bahia, Álvaro de Carvalho, provedor da fazenda, o desembargador Baltasar teles, ouvidor, escrivão dos contos e mais gente do serviço de El-rei”.
A imagem estética do aparelho de hegemonia não é de cachorro-vira-lata:
“Do outro lado via-se a poltrona episcopal, vaga pela ausência de D. Constantino Barradas, que se achava de visita na capitalia de Pernambuco; seguiam-se as dignidades da Sé e o coro dos cônegos; no fim havia um banco de veludo roxo que devia ser ocupado pelo provincial dos jesuítas à direita do dom abade de São Bento e do custódio dos franciscanos”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 23).
O jesuíta representa o general intellect gramatical (Bandeira da Silveira;05/2022) sacro, a democracia barroca sacra tupi-guarani e não o fascismo da insurreição colonial - na ideologia política iluminista liberal do Marquês de Pombal acreditava. ( Falcon. 1993; Faoro. 1994).
A identificação estética da massa estética com o poder estético angelical é quase universal se não fosse por uma jovem quase herege e os olhares libidinais entre belas jovens e belos rapazes na Igreja:
Mais longe, as duas meninas, logo que começara o sacrifício, haviam cessado a conversa e emudecido no santo respeito que lhe inspirava o sublime mistério da religião cristã; mas o espírito de Elvira, rebelde e tenaz, voltava às suas preocupações apesar de todos os esforços que ela fazia para afastá-lo de tais ideias e trazê-lo à oração, que os lábios balbuciava automaticamente”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 26).
A igreja aparece como um modo de ser psíquico sublimatório para a massa de fiéis misturado com olhares carnais dos jovens:
“Inesita, essa estava inteiramente absorvida pela oração; o espírito de Deus a dominava; e só de espaço em espaço, nos momentos em que a alma saindo da meditação lembra-se que tem um corpo, a tímida menina sentia-se viver pela recordação do lugar onde estava e da proximidade de Estácio; então sem ver, adivinhava que o olhar do moço a envolvia em um raio de amor, e estremecia com a sensação de gozo inexprimível. (Idem: 27).