CRISE BRASILEIRA/FINAL DE JUNHO,2015
A crise brasileira não pode ser
reduzida à uma simples crise política. Tal redução significa uma privatização
da história. A crise brasileira é a crise de um processo histórico em uma determinada
conjuntura. Esta é a síntese de múltiplas determinações políticas, econômicas,
culturais e do direito. O direito não é apenas uma forma de consciência (forma
ideológica, forma do Imaginário). Ele existe como contrasignificante (junção de
estrutura e prática) e pode se constituir na força (motor) com potência para
ditar o rumo do acontecimento político. A ciência política universitária é uma
operação privatista da política em si. Ela é parte da cultura oligárquica-burguesa
que transforma a política em uma categoria mercantil, categoria capturada pela
lógica da mercadoria, isto é, a política como factum reificado. Assim, a política é isolada da totalidade social
e do processo histórico. No Brasil, a ciência política é a ciência política
articulada pela episteme capitalista do Engenho de cana-de-açúcar; ela é expressão
da razão burguesa do engenho. Ao querer pensar fora dessa razão, os cientistas
políticos se transformam em artífices do medo rezando uma reza do fim dos tempos,
do fim da política como recurso para solucionar a crise brasileira. Tais
cientistas veiculam o temor de que o fantasma do fim da política não pode ser
atravessado. Ernst Bloch escreveu: pensar é atravessar (o fantasma do futuro).
Para os cientistas políticos desarmados para pensar o futuro, a lógica do fantasma
aponta para o fim da utopia do país: o Brasil fazendo parte das nações
desenvolvidas. A quem interessa este discurso derrotista?
Em um contraponto a tal forma de “pensamento”,
a dialética materialista se apresenta (se isso for permitido) como um artefato da
sociedade brasileira permitindo mediatizar este processo histórico, se as
forças da revolução política venham a ter acesso ao Novum mediatizado e
dominado pela possibilidade quebrar a Ordem política definida pelo quadro
global das forças da episteme do capitalismo de engenho. A força dirigente da
conjuntura de junho de 2015 está definida por uma articulação que tem o Juiz
Sérgio Moro como agente determinante da ação que cercou, encurralou o governo
Dilma Rousseff através da operação Lava Jato pela captura dos agentes privados
e estatais da corrupção da Petrobrás. Juiz
federal do Paraná (Curitiba), Sérgio Moro está entre os três indicados pela
Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) para concorrer ao cargo de
ministro no Supremo Tribunal Federal (STF). A vaga é decorrente da saída de
Joaquim Barbosa, que anunciou aposentadoria em maio. De acordo com a
Associação, a lista tríplice definida pelos juízes federais foi encaminhada à
Presidência da República. Os nomes indicados pela Ajufe concorrerão com nomes
indicados por outras entidades de classes e associações, como a de advogados e
a do Ministério Público, por exemplo. Sérgio Moro é juiz titular da vara
federal especializada em lavagem de dinheiro e crime organizado de Curitiba.
A lava Jato é uma operação jurídica-policial
(e política) envolvendo também um subaparelho da Polícia Federal e um ramo do
Ministério Público Federal que ganharam autonomia prática em relação ao governo.
A posição do Ministro da Justiça tem se pautado por uma não interferência no
confronto entre esta burocracia ilustrada pombalina e o governo Dilma Rousseff.
Foi o Marquês de Pombal que inscreveu o liberalismo político na história
brasileira. Assim, Curitiba tornou-se a capital política do pais. Pois como
centro geopolítico da ação da Lava-Jato (no mundo invisível da política para a
sociedade), ela tem um objetivo tático muito claro (ao menos para o físico da
política). Ela quer alterara o quadro global das relações de força pondo para o
fundo da cena política o nosso Príncipe do sertão: Luís Inácio Lula da Silva.
A ação de Sérgio Moro não é
orientada pela episteme do engenho? Ela visa resolver o problema da crise brasileira
fazendo uma redução dessa à crise política. Resolver a crise global é
resolvê-la extraindo a energia narcísica do PT que é a ligação do partido com
as massas. Mesmo com toda a crise do partido, ele continua sendo o de maior
preferência do eleitorado (11%, PSDB = 9%). Mas a energia narcísica petista {que
liga o partido com às massas sociais quentes da insurreição petista (concreto) e
às massas frias do eleitorado (abstrato)} depende de um fato vicário (ersatz) para
tomar o poder e mantê-lo: a relação narcísica das massas com o Príncipe do
sertão. As forças que querem se livrar do reinado petista não se fiam no Lula
volume-morto (abaixo de 10%). Lula tem a magia do Cacique Cobra Coral que é
capaz de fazer chover na seca política sertaneja. Lula é ligado à história política
mitológica; ele é um mito da nossa política. E a energia narcísica (que faz
presidentes petistas) é da ordem do mito desde a sua fundação na história
mundial na civilização arcaica.
A ação jurídico-política de Moro
é a tentativa de resolver a crise brasileira sem rasgar a Constituição de 1988
a partir de uma alteração molecular na política: a morte simbólica de Luís
Inácio da Silva. A melhor solução é Dilma Rousseff conduzir o país (sangrando) até
a eleição de 2018. Se o juiz Sérgio Moro quisesse alterar globalmente o quadro
das relações de forças, ele levaria a investigação até o envolvimento orgânico de
Dilma e do PMDB na Lava-Jato. Ele daria um cheque mate na dupla Dilma/Temer não
deixando outro caminho para eles senão a renúncia coletiva. A convocação de
eleição para presidente da república poderia fazer pendant com a convocação de
uma Assembleia Nacional Constituinte. Mas isso já é a revolução política. Pela lógica
do futuro de Sérgio Moro, o PSDB e o PMDB serão os protagonistas da eleição
presidencial de 2018, com Lula desossado politicamente. Esse futuro é o futuro
da continuação do capitalismo do engenho e um futuro sem futuro para a
sociedade brasileira. Isso é a lógica do futuro como lógica da mercadoria. Um
futuro isolado da possibilidade de uma solução pela dialética materialista da
história. Nesse caminho, a crise brasileira tem que se tornar uma crise
pública, isto é, a lógica publica subsumindo a lógica privatista da crise.
Oliveira Vianna gostava de dizer: “não existe espírito público entre nós”
A indústria cultural (eletrônica
e de papel) tem sua lógica ditada pela episteme do engenho que a transforma em
um aparelho ideológica da razão burguesa do engenho. Isso é o que a faz funcionar
como Corporação de Ofício industrial-cultural do engenho contra a vontade de
uma parcela minúscula dos intelectuais que nela trabalham. No entanto, como
centro estratégico da cultura política brasileira, ela poderia vir a funcionar
como Bewusstsein.Trata-se de consciência
usada lato sensu abrangendo
autoconsciência e razão. Como Bewusstsein, ela seria um agir hegemônico (articulando
política e cultura) capaz de alterar o objetivo tático de Sérgio Moro. É improvável
que ela siga por este caminho que já tragou um Príncipe econômico do engenho
urbano (Marcelo Odebrecht) dono de uma das maiores empreiteiras do Brasil. A
lógica da mercadoria que faz funcionar a Corporação de Ofício da cultura
política eletrônica põe e repõe limites claros para uma ação hegemônica determinada
pela lógica dialética materialistas. Isso explica porque a indústria de
comunicação (e o jornalismo impresso) faz de conta que não conhece os textos do
PCPT e da Comunidade da Física Freudiana. É improvável que os jornalistas da Globo
News desconheçam o nosso material sobre a crise brasileira. O fim do Brasil tal
como o conhecemos é irreversível, mas isso não significa o fim da história do
Brasil. Isso é reversível! É possível retomar a nossa história em um outro patamar,
uma história que não terá como dominus as máquinas de guerras partidária,
cultural, econômica e do direito brasileiro. Esse futuro está inscrito na
lógica do fantasma do futuro que precisa ser atravessado. O futuro pode ser o
que se teme ou o que se espera; no plano da intenção humana que recusa o
fracasso, l’avenir é aquilo que é
esperado. A função e o conteúdo da ESPERANÇA são constantemente experimentados
e, no século XXI, ils ont été mis en oeuvre
et développés. As multidões quentes da Espanha (15-M/Indignados) e do
Brasil (2013/2015) são aprova disso! Que forças podem fazer isso no Brasil? As
forças da própria sociedade em um processo histórico dominado por uma revolução
política. A esperança é a travessia do fantasma dos derrotados (derrotistas), dos que já
ensarilharam as armas da ciência da política.
Só quero saber o que pode dar certo
Não tenho tempo a perder